Nem toda obra-prima literária duradoura inspira mil anos de arte, e “O Conto de Genji”, escrito no Japão do início do século XI, e possivelmente o primeiro romance do mundo, é uma exceção. Uma saga narrativamente rica de vida e amor na corte imperial japonesa que estimulou a inovação e foi de muitas maneiras fundamental para a própria arte japonesa.
“Genji”, o livro, é um dos monumentos do período Heian do Japão (794-1185). Esse período foi amplamente considerado a época de ouro do Japão, pois foi quando o reino se libertou decisivamente da influência chinesa, desenvolvendo, por exemplo, sua própria escrita silábica, chamada kana, na qual se executou “Genji”, e que logo se tornou a base para uma nova caligrafia japonesa. Na época o Japão era governado por uma sucessão de clãs aristocráticos, chefiados por um shogun, começando com a família Fujiwara.
Escrito por uma nobre e dama de companhia, o romance captura o esteticismo, a intriga e os costumes da vida na corte enquanto eles giram em torno do príncipe Genji, um homem irresistivelmente bonito, poliamoroso e moralmente flexível (e fictício) – conhecido como o Príncipe Brilhante.
A história se desdobra em 54 capítulos vinculados com um grande elenco que inclui belas amantes que moram juntos, amantes temporários, crianças, lacaios devotados e irmãos de Genji. Genji é um príncipe playboy, mas neurótico, um Don Juan com mais do que um toque de Hamlet, capaz de sentir remorso, culpa e depressão e uma espécie de autopiedade obsessiva. Ele também chora facilmente.
Talvez antes mesmo de ser concluído, capítulos de “Genji” começaram a circular na corte e além e logo sua autora alcançou uma celebridade silenciosa. Ela ficou conhecida como Lady Murasaki Shikibu, em homenagem à personagem feminina do livro e o grande amor de Genji. O nome, no entanto, é apenas descritivo – pois sua verdadeira identidade é desconhecida.
As mulheres da era Heian eram tradicionalmente excluídas de aprender chinês, a língua escrita do governo, mas Murasaki, criada na casa de seu pai (um homem erudito), mostrou uma aptidão precoce para os clássicos chineses e conseguiu adquirir fluência. Ela se casou em meados dos vinte anos e deu à luz uma filha antes da morte do marido, dois anos depois de se casarem.
Não se sabe quando ela começou a escrever “O Conto de Genji”, mas provavelmente foi enquanto ela era casada ou logo depois de ficar viúva. Por volta de 1005, ela foi a servir como dama de companhia da imperatriz Shōshi na corte imperial, provavelmente por causa de sua reputação como escritora. Ela continuou a escrever durante seu serviço – e foi então que acrescentou cenas da vida na corte ao seu trabalho. Depois de cinco ou seis anos, ela deixou a corte e se aposentou.
“Genji” tem uma intensidade emocional que parece surpreendentemente moderna, especialmente nas constantes enumerações de seus personagens, se seus pensamentos e mudanças de humor. Dentro de um século de sua escrita, os artistas japoneses estavam enfrentando o desafio de reproduzir a obra, dando a suas cenas forma visual em álbuns ilustrados, rolo de papel, pinturas penduradas, grandes telas dobráveis e, menos familiar, versões em miniatura. Ao longo das imagens da obra, vemos emergir a sensibilidade pictórica do país: as delicadas representações isométricas da arquitetura da época.
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